Novo teste molecular de DNA-HPV, mais eficaz, será adotado pelo SUS para tornar mais eficiente a prevenção do câncer de colo de útero
Por/ Bruno Bucis - Metrópoles
O Sistema Único de Saúde (SUS) começou a substituir gradualmente o papanicolau pelo exame molecular de DNA-HPV. O teste com coleta de amostras é mais eficaz para a detecção do vírus causador do câncer de colo de útero.
A técnica, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é mais precisa na detecção de casos precoces. Estudos mostram que ela revela a presença do vírus 10 anos antes do aparecimento das lesões visíveis no exame papanicolau, que hoje é padrão. Esse intervalo de diagnóstico precoce reduz o risco de morte pela doença.
“A tecnologia de DNA para a detecção do HPV, junto ao rastreamento periódico, é mais fidedigno que o papanicolau para fazer a prevenção dessa doença”, afirma a ginecologista Sálua Calil, da Rede Mater Dei de Saúde.
A transição no SUS será gradual, conforme diretrizes divulgadas pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), mas a previsão é que em até 180 dias o exame já seja o padrão de rastreamento na rede pública.
Profissionais de enfermagem já capacitados para o papanicolau poderão realizar a coleta do novo teste. “O material é um pouco diferente, mas com treinamento básico, o enfermeiro consegue fazê-lo”, afirma Gabriela Giacomini, representante do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
Intervalo maior entre exames
Com a adoção do teste molecular, o intervalo entre coletas para mulheres sem diagnóstico de HPV passará de três para cinco anos, reduzindo a frequência de realização do exame. A faixa etária recomendada permanece de 25 a 49 anos.
O exame identifica os principais subtipos do vírus que são associados ao aparecimento de lesões, como os tipos 16 e 18, responsáveis por 70% das feridas pré-cancerosas. Caso detectados, a paciente será encaminhada diretamente à colposcopia, em que uma lente amplia a visão das áreas examinadas e aumenta a precisão dos laudos.
HPV e o câncer de colo de útero
O papilomavírus humano (HPV) está ligado a quase todos os casos de câncer de colo de útero. Este tipo de tumor ginecológico é o terceiro mais comum entre mulheres brasileiras. O HPV ainda é ligado a outras neoplasias perigosas, como os tumores de ânus, pênis e faringe.
O HPV atinge mais da metade (54,4%) das mulheres brasileiras que já iniciaram suas vidas sexuais e 41,6% dos homens na mesma circunstância. Ter o vírus não é sinônimo de doença, mas sinal de risco para seu desenvolvimento.
A vacina contra o HPV é uma das formas mais eficazes de prevenir o aparecimento destes tumores. A integração entre vacinação e teste molecular pode acelerar a meta da OMS de eliminar o câncer de colo de útero até 2030.
Em 2024, o Ministério da Saúde atualizou a indicação de imunização com dose única da vacina, visando ampliar a capacidade de imunização e intensificar a proteção contra a doença e outras complicações relacionadas ao HPV.
A vacina está disponível no SUS para: meninas com idade entre 9 a 14 anos; adolescentes e mulheres vítimas de abuso sexual; indivíduos vivendo com HIV, transplantados de órgãos sólidos, de medula óssea ou pacientes oncológicos, com idades entre 9 e 45 anos.
Na maioria dos casos, o câncer de colo de útero é assintomático em seus estágios iniciais. No entanto, sintomas podem aparecer e indicar a presença da doença, explica a oncologista Thais Almeida, oncologista no IBCC Oncologia, hospital especializado no tratamento de câncer.
“À medida que a doença progride, alguns sinais podem surgir, como sangramento vaginal anormal, sangramento durante a relação íntima, dor pélvica e corrimento vaginal incomum com odor desagradável”, detalha.